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Menino
Um domingo de manhã
Estava eu caminhando
Tentando entender o mundo
E tudo que está passando
Quando vejo um menino
A rua atravessando
Ele disse: "minha senhora
Uma moeda por favor
Preciso comprar um pão
Pois estou com muita dor
Meu estômago esta roncando.
Mas era fome de amor!"
Olhei pra aquele menino
E comecei a pensar
Ele era um brasileirinho
De tantos a perambular
Sem comida e sem guarida
Sem pai, sem mãe, sem um lar
No olhar daquele moleque
Vi meu Brasil estampado
Ali era o resultado
De tudo que foi roubado
Entreguei-lhe uma moeda
Ele me disse: "obrigado".
Ele me agradeceu
Com um olhar inocente
Pensei no desrespeito
Que vive a minha gente
Tiram daquele menino
Uma educação decente
O pequeno abandonado
Era o reflexo da nação
De um país de corrupto
Sem caráter e sem noção
Tiraram daquele inocente
Escola, guarida e pão
Resolvi então gritar
Por esse pequeno menino
Gritar pela sua fome
E também por seu destino
Por favor, misericórdia
A este pobre peregrino
Se existe uma arma
Na qual eu possa lutar
Meus versos são minha arma
Para o descaso enfrentar
Enquanto eu aqui viver
Mazelas vou apontar
Em nome do meu cordel
Peço encarecidamente
Não roubem desse menino
Uma educação descente
Não tire dele o pão
Saúde e educação
Não matem um irmão da gente!
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Ao Papa Francisco
Bendito seja Francisco
Traga-me a devoção
Ensina-me o caminho
Do Cristo e da oração
Mostra-me a santidade
A praticar a caridade
E a viver em comunhão
*Cleusa Santo*
22.jul.2013
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Queria falar das flores
Queria falar das flores...
Das flores de laranjeiras,
Cravos e belos jasmins.
Cirandas e brincadeiras,
Fábulas, lendas, cantigas
E das mulheres rendeiras!
Queria falar das flores ...
Do xaxado e do baião.
Do aboio dos vaqueiros,
Que aquece o coração.
Dos santos milagreiros,
De padre Cícero Romão.
Queria falar das flores ...
Do belo lírio formoso.
Contar histórias de amor,
De um príncipe corajoso.
Declamar o bom cordel,
Dizer contos de Trancoso!
Mas hoje, infelizmente,
Só me restou pra falar
Da destruição das flores,
De montanhas, serra e mar.
Se continuarmos assim,
Onde nós vamos parar?
Cleusa Santo
06-4-11
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Lamento de um amor
O fato que vou contar
Aconteceu no sertão:
Um cabra muito valente,
Por nome de Lampião.
Além da história contar,
Nós vamos representar.
Preste bastante atenção!
Ele, um rapaz normal.
Cabra macho, sim senhor!
Tornou-se cangaceiro
Por causa de um horror.
Incendiaram sua morada,
Matando sua mãe amada
E também seu genitor!
O menino Virgulíno
Endureceu o coração.
Só pensando em vingança,
Percorreu todo sertão.
Quem passasse em sua frente,
E que não fosse decente,
Levava uma lição!
Sem que ele percebesse
Seu coração bateu forte.
Aquele homem frio,
Sem sonho, rumo ou norte,
Apaixonou-se por Maria.
Tudo virou alegria,
Tudo virou boa sorte.
Maria que era bonita
E esposa de um sapateiro,
Quando viu Lampião,
O amor falou primeiro!
Disse: Meu grande amor,
Juro por nosso senhor,
Tu serás o derradeiro!
Lampião vendo em Maria
Um poço de fortaleza,
Disse: Oh, linda Maria,
Digo com toda franqueza,
Não nascerá neste mundo,
Um amor forte e profundo,
Com tanto encanto e beleza!
Ela foi a sua mulher,
Amante e cangaceira.
Maria sempre bonita
E também muito guerreira.
Pegava num bacamarte
E dava tiros com arte,
De uma forma certeira!
Nunca o cangaço e o amor
Andaram tão juntinhos.
Maria e Lampião
Pareciam dois pombinhos.
Olhares enamorados,
Os dois sempre abraçados,
Pareciam dois anjinhos.
Mas o destino cruel
Preparou uma emboscada:
Mataram o Virgulíno
E também sua adorada!
Ficou naquele momento,
O povo com o lamento
Do cangaceiro e amada.
14.11.2012
*Cleusa Santo*
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Liberdade
Salve meu mestre Zumbi
E a toda força do bem.
Salve meu pai Oxalá
E os orixás também.
A capoeira de Angola,
Este presente do além!
Salve a alegria do samba,
O negro e o tamborim.
Salve o mestre Mandela,
Que é homem e querubim.
Negros, brancos e amarelos,
Cantem num coro assim:
Liberdade, liberdade ...
Eu quero ouvir seu cantar!
Para que todos os povos
Livres possam caminhar,
Unidos de coração,
Cantando a mesma canção:
Amar, amar e amar!
20.11.2012
Dia da Consciência Negra
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Lamento do meu querer
O meu querer é tão grande,
Tira-me o rumo e razão!
Não é um querer da carne,
Desejo ou só paixão!
É querer tudo querendo,
Um viver quase morrendo,
É pecador sem perdão!
É um desejo que mata,
Tira pedaços de mim,
Vai roubando minha alma,
Isso do começo ao fim!
É um querer tão querido,
É o achar do perdido,
Que vive dentro de mim.
Meu bem se você soubesse,
Como dói o meu querer,
Deixava tudo e todos,
Vinha comigo viver!
Só assim a alma minha
Repousava bem calminha
E parava de sofrer.
*Cleusa Santo*
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"Liberdade, liberdade ...
Quero ouvir seu cantar!
Para que todos os povos
livres possam caminhar,
unidos de coração,
Cantando a mesma canção:
Amar, amar e amar!"
*Cleusa Santo*
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Para fazer um cordel
Não é preciso sofrer,
É só respeitar as rimas,
A métrica obedecer,
Soltar o seu coração,
Para a poesia nascer!
*Cleusa Santo*
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Ser para ter, ou ter para ser
Quem é você meu amigo,
É tudo que acumulou?
São seus bens, seus títulos,
A fama que conquistou?
Ou é apenas o ser livre,
Do jeito que aqui chegou?
Não somos o nosso nome,
Nem fortuna acumulada.
Pergunto-te meu amigo:
E o ser que não tem nada?
Qual é o valor deste ser
Ou ele não vale nada?
O valor do ser humano
Está em suas conquistas,
Pensando num bem maior,
Conquistas construtivistas,
Não meras futilidades,
Projetos fúteis e egoístas.
Então meu querido amigo,
Preste bastante atenção:
Tu és maior do que pensas,
És a coroa da criação!
Porém não é uma gota,
Mais que o seu pobre irmão!
*Cleusa Santo*
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A arte imita a vida